O primeiro livro infantil de Lobato foi lançado em 1920, com total de 26 obras infantis.
Monteiro Lobato lançou, no natal de 1920, seu primeiro livro infantil, A Menina do Narizinho Arrebitado, com a capa e desenhos de Voltolino, famoso ilustrador da época. O livro fez muito sucesso e dele saíram outras histórias, tendo sempre como personagens Dona Benta, Pedrinho, Narizinho, Tia Nastácia e Emília.
Nesses livros, Lobato recuperou os costumes da roça e as lendas do folclore nacional, misturando com eles elementos da literatura universal, da mitologia grega, dos quadrinhos e do cinema. Também faz questão de transmitir conhecimentos e idéias nos livros que falam de matemática, história e geografia.
Grande parte de sua literatura sempre foi direcionada às crianças. Produziu 26 títulos destinados ao público infantil, entre obras originais, adaptações e traduções.
Nas adaptações, o escritor se preocupou em levar às crianças o conhecimento da tradição, possibilitando-lhes questionar as verdades feitas. Alguns exemplos disso podem ser observados em Dom Quixote das Crianças, O Minotauro e na série Os Doze Trabalhos de Hércules.
A genialidade de Monteiro Lobato foi mostrar ao seu público infantil que o maravilhoso pode ser vivido por qualquer pessoa. Assim, a realidade comum e familiar à criança é penetrada pelo maravilhoso, com a mais absoluta naturalidade, fator decisivo por seu sucesso com os pequenos leitores.
Lobato sempre recusou o sentimentalismo em seus textos, preferindo usar a irreverência, o humor e a ironia.
O escritor sempre fez críticas à sociedade e ao governo em seus textos, sendo que na maioria de sua obra infantil elas vêm implícitas, só sendo mais diretas em “O Poço do Visconde” e “As caçadas de Pedrinho”, que contribuem para formar uma criança mais consciente.
Reinações de Narizinho
Numa casinha branca, lá no Sítio do Pica-pau Amarelo, mora uma velha de mais de sessenta anos. Chama-se Dona Benta. Quem passa pela estrada e a vê na varanda, de cestinha de costura ao colo e óculos de ouro na ponta do nariz, segue seu caminho pensando:
-Que tristeza viver assim tão sozinha neste deserto…
Mas engana-se. Dona Benta é a mais feliz das vovós, porque vive em companhia da mais encantadora das netas – Lúcia, a menina do narizinho arrebitado, ou Narizinho como todos dizem. Narizinho tem sete anos, é morena como jambo, gosta muito de pipoca e já sabe fazer uns bolinhos de polvilho bem gostosos.
Nas casa ainda existem duas pessoas – Tia Nastácia, negra de estimação que carregou Lúcia em pequena, e Emília, uma boneca de pano bastante desajeitada de corpo. Emília foi feita por tia Nastácia, com olhos de retrós preto e sobrancelhas tão lá em cima que é ver uma bruxa. Apesar disso Narizinho gosta muito dela; não almoça nem janta sem a ter ao lado, nem se deita sem primeiro acomodá-la numa redinha entre dois pés de cadeira.
Além da boneca, o outro encanto da menina é o ribeirão que passa pelos fundos do pomar. Suas águas, muito apressadinhas e mexeriqueiras, correm por entre pedras negras de limo, que Lúcia chama as “tias Nastácias do rio”.
Todas as tardes Lúcia toma a boneca e vai passear à beira d’água, onde se senta na raiz dum velho ingazeiro para dar farelo de pão aos lambaris.
Não há peixe do rio que a não conheça; assim que ela aparece, todos acodem numa grande faminteza. Os mais miúdos chegam pertinho; os graúdos parece que desconfiam da boneca, pois ficam ressabiados, a espiar.
(…)
ESPECIAL MONTEIRO LOBATO
Parte 1: Início da Carreira
Obras: Velha Praga / Urupês
Parte 2: Editor e Jornalista
Artigo: Paranóia ou mistificação?
Parte 3: Escritor Infantil
Obra: Reinações de Narizinho
Parte 4: Sítio do Pica-Pau Amarelo
Obra: O casamento da Emília
Parte 5: fim da vida
Obra: Zé Brasil
Parte 6: Um país se faz com homens e livros
Conclusão
Confira as fotos do Sítio do Pica-Pau Amarelo em nossa galeria.
Bibliografia